Rafaella Javoski*Do UOL Notícias No Rio de Janeiro - 27/10/2008
Crédito da imagem e da reportagem: Blog SOS Rios do Brasil
Devido à falta de rede de saneamento básico em comunidades de maior aglomeração na cidade, como as favelas, o governo do Rio de Janeiro anunciou que vai priorizar investimentos em um sistema conhecido como saneamento de tempo seco. Em vez de construir as tubulações do saneamento convencional, o governo vai jogar o esgoto em canais e riachos destas comunidades e bombeá-lo para pequenas estações de tratamento nas localidades.
O nome "tempo seco" refere-se à impossibilidade de usar o sistema em dias de chuva, pois com o aumento do volume de água, o esgoto transbordaria. Segundo nota da Secretaria do Ambiente, "a tecnologia possibilita uma melhora na qualidade da água de lagoas, baías e praias".
A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, anunciou que o Estado vai espalhar captações pelos rios e canais que desembocam nas lagoas da Barra e de Jacarepaguá.
Estão previstas intervenções nos canais das Taxas e do Cortado, no Arroio Pavuna e no rio do Anil. Serão projetadas captações no entorno da Baía de Guanabara - em Itaboraí, São Gonçalo, Caxias e Nova Iguaçu. A previsão é que o Estado entregue as captações de tempo seco em cerca de um ano e meio.
População comenta medida
Especialistas ouvidos pelo UOL criticaram a iniciativa do Estado.
O engenheiro químico Gandhi Giordano acredita que a captação de tempo seco é uma alternativa "completamente equivocada". Para ele, a saída é a urbanização das favelas e a instalação de um sistema de esgoto formal. "Isso é para aumentar estatística e a taxa de esgoto coletado. Não vai resolver nada. Nós pagamos caro, é para fazer tratamento bem feito", queixou-se.
A geógrafa Ana Lúcia Nogueira Brito alega que a prioridade do governo e da Secretaria do Ambiente deveria ser a recuperação de estações de tratamento que já existem, mas não operam. Segundo Brito, há três delas no município de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
"Não é melhor colocar essas para funcionar?", questiona. Ela repreende ainda a falta de três itens: projetos das estações de tratamento dos rios; recursos para construir e a garantia de que a Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) vai assumir o compromisso. "A Cedae não opera as que existem hoje de maneira adequada. Essa é uma solução temporária e precária", criticou a geógrafa.
Já o doutor em Oceanografia Química e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), Júlio César Wasserman, concorda parcialmente com o sistema. "Não é a solução ideal, mas é melhor que não ter tratamento nenhum", defende. Para Wasserman, a melhor solução seria a canalização do esgoto em toda a cidade e o professor culpa os políticos pela ausência desse sistema. "O cano fica embaixo da terra, o eleitor não vê, ele não pode inaugurar e não ganha voto. O prejuízo é muito maior que uma rua não asfaltada, mas essa aparece".
A Secretaria do Ambiente afirma que o projeto é considerado uma solução emergencial para melhorar a qualidade da água a tempo de realizar os Jogos Olímpicos de 2016. E admite que "o novo saneamento não pode ser considerado solução final para o tratamento de esgoto, e sim complementar, à espera da instalação futura de uma rede de esgoto".
Em entrevista ao "O Globo", a secretária Marilene Ramos afirmou que o Estado terá uma verba de cerca de R$ 100 milhões no ano que vem para realizar obras de saneamento convencional. "Investiremos, sim, em sistemas de tempo seco, mas sem esquecer do convencional, que separa o esgoto da galeria pluvial", disse. O UOL não conseguiu localizar a secretária para comentar o assunto.* Colaborou o UOL Notícias, em São Paulo
Matéria enviada pela colaboradora: Profª Adriana Andrade Caldeira - Rudge Ramos - S. B. Campo - SP
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