sábado, 21 de agosto de 2010

Metrópoles de agua cristalina

"Metrópoles de agua cristalina

A reportagem fala que as grandes cidades mostram como e possivel crescer e manter as praias limpas.


Grandes cidades mostram como e possivel
crescer e manter as praias limpas

Em sujeira, as metropoles brasileiras so perdem para as da India, pais "campeao do lixo, imperador da sujeira", como o descreveu o grande escritor Vidiadhar Naipaul. Por que a rica Sao Paulo e atravessada ha decadas por um rio, o Tiete, que e um esgoto a ceu aberto? Por que o Rio de Janeiro nunca se preocupou seriamente em coibir a poluicao de suas belas praias, destino final de boa parte do esgoto produzido na cidade, que chega ao mar sem nenhum tipo de tratamento? Por muitos anos os brasileiros se iludiram com a resposta mais simples: faltam dinheiro, tempo e tecnologia para limpar as cidades. A presente reportagem mostra que essa desculpa e esfarrapada. Diversas metropoles no mundo conseguiram limpar seus rios e praias com relativamente pouco dinheiro, usando tecnologias simples.
O caso do Rio de Janeiro e a mais impressionante demonstracao de descaso pela limpeza no hemisferio ocidental. Cartao-postal do Brasil, e capaz de atrair cerca de 1,5 milhao de visitantes estrangeiros por ano. Seu maior apelo e a orla maritima emoldurada por uma paisagem deslumbrante. O problema e que as praias cariocas nao oferecem apenas sol forte, areia branca e mar azul. Elas abrigam alta concentracao de coliformes fecais, vazamentos esporadicos de oleo e de esgoto e lixo que desce dos barracos nos morros depois das chuvas fortes. A Baia de Guanabara recebe a cada segundo 20 toneladas de esgoto, ou cerca de 1,7 milhao de toneladas por dia. Apenas 54% do total de esgoto produzido na cidade e coletado pela rede publica, o que significa que o resto acaba em fossas septicas ou e lancado na rede pluvial, cujo destino e o mar. Em alguns casos, a configuracao geogrfica das praias e o regime das correntes ajudam a prejudicar a qualidade da agua, mas o fato e que a cidade joga muito mais sujeira na agua do que deveria. As alternativas para resolver esse tipo de problema tambm sao conhecidas em diversos pontos do planeta.
Projetos de despoluicao bem-sucedidos existem aos punhados pelo mundo. Nas Olimpiadas de 2000, os australianos exibiram ao mundo como e possivel recuperar uma orla maritima degradada num espaco de tempo relativamente curto. Eles levaram uma decada para transformar as praias da maior cidade de seu pais, Sydney, numa zona livre de esgoto e poluicao, bem a tempo para exibi-las como cartoes-postais olimpicos. O projeto comeou em 1989, quando lancaram um ambicioso programa chamado Beachwatch, que tinha como objetivo monitorar a qualidade da agua das praias. A partir dele foram detectadas as principais causas de poluicao, o que possibilitou seu combate com o desenvolvimento de varios projetos independentes. Entre eles estao o Government's Waterways Package, iniciado em 1997 e com custo de 1,6 bilhao de dolares, para reduzir a poluicao proveniente de aguas pluviais. A principal obra do programa e um piscinao, o Northside Storage Tunnel. E um megarreservatorio que armazena 90% das aguas de chuva escoadas e poluidas antes de elas chegarem aos rios e ao mar. Os resultados sao visiveis. Na Praia de North Steyne, por exemplo, a concentrao de 1 887 unidades de coliformes fecais por 100 mililitros detectada no verao de 1989 mais de dez vezes o limite maximo aceitvel caiu para quatro unidades de coliformes fecais por 100 mililitros em 1999. Um programa desenvolvido pela Sydney Water Corporation, a companhia que cuida do fornecimento de agua na cidade, avana em outra frente. E o Water21, um plano de vinte anos lancado em 1997 para assegurar o futuro da gua em Sydney. O principal objetivo do programa e prevenir a contaminacao das aguas, a um custo de 2,2 bilhoes de dolares.
Pode-se argumentar que o tamanho relativamente pequeno de Sydney, com seus 4 milhoes de habitantes, facilita os trabalhos de despoluicao. Em parte e verdade, mas megalopoles do porte de Nova York tambem ja conseguiram controlar a sujeira que jogam nas aguas. Oito anos atras, a maior cidade americana, com 17 milhoes de habitantes, comemorou um feito historico. Conseguiu reduzir a zero a quantidade de esgoto nao tratado que despeja em torno da ilha de Manhattan, o coracao da cidade. A poluicao da agua era um problema antigo. Em 1910, tomar banho no Porto de Nova York e consumir ostras nele pescadas j era considerado uma atividade perigosa para a saude pelas autoridades sanitarias da cidade. Ha vinte anos, pescar nos peres da ilha ou no Rio Hudson, que desemboca na baia, era proibido por lei. Desde 1986, e possivel praticar a pesca recreativa, mas os peixes devem ser devolvidos a agua. As autoridades sanitarias ainda nao os consideram proprios para o consumo devido a grande quantidade de poluentes industriais lancada no rio entre 1947 e 1977. No fim da decada de 70, era despejado 1,7 bilhao de litros de esgoto por dia no Porto de Nova York, o ponto de maior concentracao dos poluentes nos arredores de Manhattan, cifra que foi zerada em 1994. Iniciativas semelhantes aconteceram em cidades como Sao Francisco e San Diego, na California. Nesta ultima cidade, as praias urbanas viraram refugio de animais como lobos-marinhos.
No Rio, tanto o governo do Estado quanto a prefeitura tem programas para a despoluicao das praias e das aguas da Baia de Guanabara. Do total de esgoto coletado na cidade, so 40% sao tratados antes de ser jogados no mar. No que diz respeito aos municipios vizinhos, a coisa e ainda pior: apenas 15% do esgoto coletado recebe algum tipo de tratamento. O resto e lanado in natura na baa. A expectativa do governo e que com os programas a quantidade de esgoto tratado chegue a 34%, o que ainda e pouquissimo para qualquer padrao civilizado. A meta e parte do Programa de Despoluicao da Baia de Guanabara (PDBG), uma iniciativa financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, pelo governo japones e com uma contrapartida financeira do governo estadual. Iniciado em 1994, o programa quase parou em 1998, quando o governo fluminense deixou de cumprir sua parte no financiamento, que corresponde a 200 milhoes de dolares de um total de 793 milhoes. Depois de meses de impasse, os investimentos foram retomados, e a promessa e que at 2003 a primeira fase do projeto esteja concluda um atraso de quatro anos em relacao ao cronograma original. Se tudo der certo, a taxa de tratamento de esgoto lancado na baia subira para 55%.
O deficit de rede de esgotos no Rio de Janeiro ocorre tanto nas favelas quanto em areas nobres e de ocupacao recente, como a Barra da Tijuca. Nesse bairro, o destino dos residuos residenciais sao basicamente as lagoas da regiao, que hoje estao comprometidas. Para resolver o caso da Barra, foram destinados 118,3 milhoes de reais do Fundo Estadual de Conservacao Ambiental (Fecam) em um projeto que inclui a construcao de 286 quilometros de rede coletora de esgoto, uma estacao de tratamento e um emissario submarino com 5 quilometros de extensao. As obras foram iniciadas em maio de 2001, mas ficaram parcialmente paralisadas entre dezembro de 2001 e julho de 2002 por falta de pagamento por parte da Secretaria Estadual de Saneamento e Recursos Hdricos. Mesmo em regioes onde existe uma rede de coleta e de despejo relativamente bem estruturada, como Ipanema, costumam acontecer trapalhadas ambientais. A falta de manutencao do emissario submarino que fica no bairro e lanca os esgotos em alto-mar provocou um despejo de toneladas de dejetos nas praias da Zona Sul da cidade em pleno verao de 1999. O acidente aconteceu porque os responsaveis pela estrutura nao consertaram fissuras em um pilar submerso, que cedeu e rompeu o duto.
A lei brasileira so recentemente comecou a prever multas rigorosas para empresas que lanam poluentes nas aguas, voluntria ou involuntariamente. Ate dois anos atras, o valor mximo de multa que a Fundacao Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) podia aplicar era de 5 000 reais, importancia inexpressiva para uma industria. A situacao mudou, e muito, depois do acidente da Petrobras, em janeiro do mesmo ano, que derramou 1,3 milhao de litros de petroleo na Baia de Guanabara, em um vazamento que durou quatro horas seguidas. As imagens de aves cobertas de oleo e manguezais afetados ajudaram a aumentar o valor da multa para 50 milhoes de reais. A multa salgada nao e suficiente para cobrir as necessidades futuras de investimentos na area. A solucao comeca pela decisao da populacao de nao mais se banhar em coliformes fecais, enganando-se com a ideia de que se esta num paraso tropical. Os pases desenvolvidos ainda tem praias poluidas. A diferenca em relacao ao Brasil e que ja aprenderam que, quanto antes comecarem a trabalhar e quanto menos o trabalho for interrompido ao longo dos anos, menor sera o prejuizo social e financeiro para o pais."


Fonte: http://lariangel.br.tripod.com/ecologia/id19.html

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